Literaturacapixaba

CAPÍTULO I

1.1. INTRODUÇÃO A autora capixaba Bernadette Lyra, consagrada no livro “As Contas no canto”, no Concurso Nacional de Contos, em 1975 e que recebeu a Menção Especial no Prêmio Fernando Chináglia, é uma figura de destaque na literatura do Espírito Santo na década de oitenta, cuja produção, trabalhada numa linguagem clara, concisa, irônica e bem-humorada, é caracterizada pela presença do realismo-fantástico, pela fragmentação da realidade, pela perversão da vida urbana, pela violência dos tempos modernos etc, encarados sob um prisma extremamente psicológico. Em 1985, publica “Aqui começa a dança”, vindo a comprovar que escreve romances com a mesma facilidade com que escreve contos. “Aqui começa a dança” é um romance que se diferencia dos demais por romper a linearidade da narrativa, caracterizado por sua atemporalidade, no qual as ações no tempo e no espaço ficam sujeitas ao momento existencial e psicológico. “Aqui começa a dança” não apresenta nenhum referencial que, aliado à ausência de linearidade, constitui o rompimento visto nas obras de Oswald de Andrade, na época revolucionária da Semana da Arte Moderna, em 1922 e em Machado de Assis, quando inaugura o Realismo. “Aqui começa a dança” com sua estrutura fragmentada nos remete ao cotidiano corrido, agitado e se passa na década de oitenta, quando agoniza a ditadura militar, o consumo de drogas aumenta, há a proliferação de religiões e seitas, o misticismo alarga fronteiras, o comportamento humano é estudado de forma diferenciada de décadas anteriores, a tecnologia em crescimento transforma a sociedade, diminuindo as distâncias e, paradoxalmente, isolando o homem. Essa realidade incorpora-se ao texto e, compondo os personagens, deixa o leitor inquieto diante da construção de uma história corajosa, inesperada, irônica, permeada de humor, de uma ironia que encanta e surpreende. Embrenhar-se na narrativa do romance é perder-se e achar-se. É remontar à cultura, aos ideais e