LePdeT Dois escritores e seus ca es

Ingrid Orlandini - 7616416
Imagine a sensação de estar lendo um livro maravilhoso. Na última linha a última palavra da página está separada do restante da estória por um hífen e, ao virar a página, não há mais estória e o livro acaba assim, no meio de uma sentença, no meio de uma palavra. Foi essa a sensação agridoce que eu tive com o ensaio do articulista
Roberto Pompeu de Toledo intitulado “Dois escritores e seus cães”.
Entende-se que a brevidade do texto se deve às suas limitações físicas: um ensaio de revista confinado a apenas uma página que, no entanto, dá voz a uma discussão que esses quatro cantos não são suficientes para abrigar.
Nota-se no ensaio que para fazer uma introdução do tema a ser tratado, sobre os dois cães-personagens das obras de Machado de Assis e Graciliano Ramos, dos oito parágrafos escritos, quatro parágrafos inteiros são necessários para contextualizar os dois cães quanto a suas respectivas obras, suas estórias e destinos. Enquanto eu acredito que a contextualização seja necessária – mesmo que esses sejam livros famosos da literatura brasileira, há quem nunca os tenha lido, mas que porventura poderá ler o ensaio de Roberto Pompeu e precisará entender porque se está falando sobre esses cães e, afinal, quais cães são esses –, ela toma metade do texto, restando aos últimos dois parágrafos todo o trabalho de resumir ao leitor a que ponto o autor queria chegar ao decidir falar sobre esses dois cães-personagens específicos: as semelhanças psíquico-culturais dos dois caninos com seus donos. E não com aqueles donos dentro da obra com quem eles interagem, mas com os donos de seus donos, os escritores e criadores das obras.
No fim de seu ensaio Roberto Pompeu cita as semelhanças que observou entre os cães e os escritores, particularmente a relação entre as personalidades e convicções desses autores com o fim que eles escrevem para seus cães-personagens. Uma reflexão mais profunda dessas semelhanças perde-se na brevidade do ensaio e no
afunilamento