leitura obrigatoria
Carlos Montaño** 1. Como o senhor definiria o que hoje é denominado como 3º setor?
Entendo que o termo “Terceiro Setor” representa uma construção intelectiva, sem materialização no real. Por isso, caracterizo o termo como uma “denominação ideológica”. O que verdadeiramente existe são as ONGs, as associações, as instituições, fundações, entidades, relações sociais que integram e participam da sociedade civil. O que efetivamente existe são ações de solidariedade individual ou local, de filantropia etc. desenvolvidas por estes atores. Porém, não num determinado “setor” diferente e autônomo, e sim numa esfera da realidade social que é a sociedade civil.
Cabe então a seguinte pergunta: é o “Terceiro Setor” igual à “Sociedade Civil”?
Duas respostas são possíveis.
Em primeiro lugar, SIM, ambos conceitos remetem exatamente à mesma noção da realidade. Neste caso, por que então não falar da sociedade civil, como uma esfera articulada à dinâmica social geral, ao Estado e ao mercado, carregada de tensão e contradição de interesses, de conflitos e lutas? No conceito de “sociedade civil” estão incluídas organizações neonazistas, a TFP, o Comando Vermelho, a FIESP, as FARCs, os Sindicatos; e não apenas as organizações e ações “populares” que descrevem os teóricos do “terceiro setor”. Estes autores em geral não o caracterizam assim.
Isto leva à segunda resposta. NÃO, não são a mesma coisa. Portanto, o que seria esse “terceiro setor”, que não é sociedade civil? O que particularizaria o “terceiro setor” e o diferenciaria do conceito de sociedade civil? Na realidade os autores não dão resposta a isto, e nem está no seu horizonte teórico. Pois o que realmente está por trás ** Doutor em Servicio Social. Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Autor dos livros La naturaleza del Servicio Social. Un ensayo sobre su génesis, su especificidad y su reproducción (Cortez, São Paulo, 1998); Microempresa na era da