Lares - a Representação Imagética do Culto Doméstico na Roma Antiga
Paulo Marcio Feitosa de Sousa
As religiões, como um todo, são prescritivas e descritivas, isto é, dizem o que o mundo é e o que você tem que ser neste mundo. Na Idade Antiga, era comum ver a religião sendo inserida nos aspectos cotidianos (seja do âmbito individual ou coletivo), do tempo, da colheita e até da fundação de algumas cidades; sendo expressa em discursos e rituais cujos vestígios nos permitem uma via de acesso à sua compreensão. É por meio desses vestígios que se faz necessária a análise de imagens, em primeiro lugar, porque a história é feita com os diversos fragmentos de materiais que encontramos. Mas, no caso da religio domestica, as imagens se tornam ainda mais fundamentais posto que os textos literários, ainda que não escassos, fazem referência com destaque aos sacra publica, ou seja, o culto público, do Estado. Em oposição aos sacra peregrina e sacra priuata que eram, respectivamente, os cultos estrangeiros praticados em Roma, mas que não tinham sido admitidos à religião oficial, e os rituais que não são direcionados à população como um todo, e sim a grupos específicos dela.
Neste artigo, teremos como objeto de análise imagens de lararia, designadamente dois lararia com pintura e duas estatuetas de Lares, nas quais elementos da religio domestica podem ser observados. Contudo, há de observar que:
“Paul Zanker tratando de pinturas com representações divinas em contexto doméstico destaca três pontos: a) as imagens são polissêmicas, e sua interpretação pode variar, b) as imagens propiciavam uma ocasião para que os espectadores as interpretassem, demonstrando um alto nível cultural; c) a despeito da variação de temas, as pinturas costumam não estar vinculadas à ação mítica correspondente, mas harmonizam-se em ações que misturam cenas tradicionais, geralmente com dois protagonistas, e os deuses chegam a ter rostos de contemporâneos, etc. Ilustravam, assim, a cultura e a riqueza de seu proprietário,