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FOLHA DE S. PAULO, 21/07/2013
SUZANA HERCULANO-HOUZEL

RESUMO O domínio da técnica de cozer alimentos representou vantagem competitiva para o homem em relação a outros animais. O aprendizado lhe permitiu obter rápida e facilmente combustível energético para alimentar 86 bilhões de neurônios e deu impulso a funções cerebrais cognitivas, não ligadas à sobrevivência.
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O que tem o cérebro humano de tão especial? Por que nós estudamos o cérebro de outros animais, e não vice-versa? O que o nosso tem ou faz que nenhum outro alcança?
Quando me interessei por essas questões, cerca de dez anos atrás, era consenso na área que todos os cérebros de mamíferos -incluindo o humanoeram construídos da mesma maneira, como versões maiores ou menores de um mesmo plano-padrão e, portanto, com um número de neurônios sempre proporcional ao tamanho daqueles, ainda que não linearmente.
Uma das implicações básicas desse raciocínio é que dois cérebros de um mesmo tamanho deveriam possuir número semelhante de neurônios.
Considerando que neurônios são as unidades funcionais de processamento de informação do cérebro, era de esperar que os donos de cérebros de dimensões idênticas exibissem habilidades cognitivas semelhantes.
Mas não é o que se vê. Vacas e chimpanzés têm cérebros de cerca de 400 gramas; capivaras e macacos, de 70-80 gramas; mas chimpanzés e macacos são capazes de comportamentos muito mais variados, complexos e flexíveis do que seus parentes não primatas de tamanho cerebral equivalente.
(Para ser absolutamente correto, é preciso reconhecer a possibilidade de vacas e capivaras terem uma vida mental interior tão rica que até escolham não deixar suas habilidades mentais transparecerem. Mas é bem pouco provável: as diferentes habilidades de cérebros de porte igual como esses são uma primeira evidência de que órgãos diferentes não devem ser apenas versões maiores ou menores de um mesmo plano básico.)
Mais problemática ainda é a outra

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