José Cardoso Pires
Cardoso Pires foi muito cedo para Lisboa com os pais e os irmãos. Entre 1935 e 1944 frequentou o Liceu Camões, onde foi aluno de Rómulo de Carvalho e de Delfim Santos, iniciando, de seguida, uma nunca terminada licenciatura em Matemáticas Superiores, na Faculdade de Ciências.
Em 1945 alista-se na Marinha Mercante, como praticante de piloto sem curso, actividade que abandona compulsivamente, «suspeito de indisciplina e detido em viagem do navio Niassa». Tendo optado pelo jornalismo, veio a assumir a direcção das Edições Artísticas Fólio, onde Aquilino Ribeiro publicou O Retrato de Camilo. Na mesma editora a colecção Teatro de Vanguarda contribui para a revelação de obras de Samuel Beckett, William Faulkner e Vladimir Maiakovski. Em 1959 estagiou na revista Época, de Milão, com vista à publicação de um semanário que a censura impediu. Entretanto lança a revista Almanaque, cuja redacção integra Luís Sttau Monteiro, Alexandre O'Neill, Vasco Pulido Valente, Augusto Abelaira e José Cutileiro. Foi ainda cronista do Diário de Lisboa, da Gazeta Musical e de Todas as Artes e da Afinidades.
Em 1953, morre o seu irmão num acidente de aviação em cumprimento do serviço militar, quando o Harvard T6 em que treinava se incendiou em pleno voo acabando por cair e explodir. Dez anos mais tarde, Cardoso Pires dedica-lhe «in memoriam» o romance O Hóspede de Job como protesto contra a guerra fria e a colonização militares.
Unanimemente considerado um dos maiores escritores portugueses do século XX, numa galeria onde podemos encontrar nomes como José Saramago ou António Lobo Antunes, a sua carreira literária está marcada pela inquietação e pela deambulação. Autor de dezoito livros, publicados entre 1949 e 1997, não se identifica com nenhum grupo, nem se fixa em nenhum género literário, apesar de ser considerado sobretudo como um romancista. A sua relação mais duradoura no campo