Jean genet

1722 palavras 7 páginas
O destino libertário de Jean Genet

O autor de Querelle e Nossa Senhora das Flores encontrou no filósofo Jean-Paul Sartre, autor de Saint Genet – Ator e mártir, o intérprete ideal de sua transubstanciação da dor e da perversão em uma forma de exercício e escolha da liberdade.

Carlos Eduardo Ortolan Miranda

Divina: – De tanto repetir para mim que não estou viva, aceito o fato das pessoas não mais me considerarem.
Jean Genet

O pária escreve uma poesia corrosiva, de acidez clássica, de beleza terrível. O pederasta, o ladrão, o mendigo, o enjeitado, o encarcerado prestes à condenação perpétua (como se esta já não lhe fizesse parte da alma) produz literatura. Nossa Senhora das Flores, Querelle, Pompas fúnebres, uma literatura que é física, mineral, poesia-objeto, poesia-corpo que só se refere ao concreto e que, por isso mesmo, nos alcança. Que é recusa e desprezo. Pecado mortal, decisão pela recusa e desejo de desespero. Não. Mais grave. Esperança no Mal. Santificação do estigma que lhe foi gravado com o ferro em brasa da acusação das Pessoas Honestas. Que nos atinge como um soco. Que alimenta nossos fantasmas mais íntimos. Literatura abismal, palavra que não liberta, Evangelho dialeticamente transmutado ou que, por outra via, descortina um salto de liberdade possível, necessariamente possível, que é inaceitável em sua sedução transgressora. A demonstração axiomática da liberdade humana é uma infâmia inconcebível. Exibir a essência ineludível da liberdade é o pecado original de Genet. E isso através de uma ordem rigorosa que é o lado oculto da ordem, é um cartesianismo às avessas, uma moral religiosa com sinal trocado. No jardim dos caminhos que se bifurcam, Genet escolhe a face escura da lua, os raios de um sol negro.

O condenado que recusa a história e assume o mito exibe impudente suas chagas, o vagabundo oficiante transubstancia a dor e a perversão. Pecado tão mais horrendo, pois sempre é inversão do dogma: sacraliza o ímpio e goza através do que é

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