Impactos da guerra cambial
A taxa de câmbio é uma das variáveis mais relevantes de uma economia, especialmente da economia brasileira, por ser esta uma economia emergente, exportadora de produtos baseados em recursos naturais, importadora de bens de capital e de insumos industriais, e ter um mercado financeiro razoavelmente bem desenvolvido. Ou mesmo pelo fato de a economia brasileira ter tido, até recentemente, grande parte da dívida pública indexada em moeda estrangeira (dólar americano). Ou por ainda emitir, no mercado internacional, grande parte de títulos ainda indexados em dólar.
O fato é que o papel da taxa de câmbio real sobre o crescimento é uma questão controversa, especialmente para o caso de países em desenvolvimento, como o Brasil. Por um lado, uma apreciação da moeda doméstica tende a aumentar o poder de compra dos agentes, aumentando a absorção doméstica e o crescimento no curto prazo. Por outro lado, uma moeda apreciada também impacta negativamente as exportações líquidas, o que reduz o crescimento da renda no curto prazo. O efeito líquido entre esses dois impactos é desconhecido a priori.
De acordo com os autores Nelson Henrique Barbosa Filho, Bruno Rocha da Silva, Fábio Mitsuo Fukujima Goto e Julio Henrique Alexandre Menezes da Silva, o panorama de maior crescimento econômico quando da desvalorização cambial não é tão claro no longo prazo porque o impacto da apreciação e a depreciação sobre a demanda cessam depois que a taxa de câmbio real tende a se estabilizar. Contudo, a diversidade e a complexidade da estrutura produtiva da economia brasileira, associada à grande heterogeneidade regional, pode tornar muito difícil avaliar os efeitos de alterações na taxa de câmbio sobre o conjunto dessa economia. De qualquer forma, a participação da indústria de transformação no PIB brasileiro está declinando desde o início da década de 1980, e essa tendência vem se acentuando juntamente com a apreciação da taxa de câmbio observada nos últimos anos.