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Serão Todos Filhos de Adão? A África Subsaariana e o Mundo Cristão

Letícia C. F. Destro

1. Introdução

No imaginário cristão do século XV, o universo, o globo terrestre, a Ilha da
Terra e principalmente o mundo (Ecúmeno) tinham conotações muito específicas que merecem ser aqui especificadas.
O universo era concebido como uma criação de Deus, portanto era finito e perfeito – tudo nele já estava feito de forma inalterável e de acordo com um modelo arquetípico e único (O’GORMAN, 1992: 72). A imagem arcaica do universo a que o
Cristianismo deu contornos teológicos era a de uma imensa esfera com duas zonas concêntricas que se diferenciavam principalmente pela natureza. A primeira e mais afastada da Terra (centro) era a zona celeste que continha as órbitas do empíreo
(reservado aos santos, anjos e seres abençoados), do primeiro motor (causa inicial de todo o movimento), do cristalino, do firmamento e dos sete planetas, juntamente com o
Sol e a Lua. Em seguida começava a segunda, a sublunar, que continha os quatro elementos: o fogo, a água, o ar e a terra. Nessa zona, conhecida também como elementar ou da decomposição, eram gerados os seres vivos destinados a perecer (Idem:
75).
O globo terrestre, por sua vez, não era sequer um corpo celeste, “era uma massa de matéria mais pesada do universo: uma grande bola que, fixa no centro, suportava o peso das massas de matéria em escala crescente de leveza [...]” (Idem: 74). Ele era,

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então, o alicerce de todo o cosmo e alojava a zona do inferno, que também estava estruturado em órbitas correspondentes aos sete pecados. Na última esfera vivia Lúcifer.
A distribuição do globo em terra e mar, por sua vez, suscitava indagações a respeito do tamanho de cada uma dessas partes. Indagações essas que conheceram soluções hipotéticas se vistas à luz dos conhecimentos atuais, mas não arbitrárias, pois respondiam a exigências de natureza científica e religiosa, como ressalta Edmundo
O’Gorman (Idem: 76).

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