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508 palavras 3 páginas
A expressão "cultura de almanaque" - tomar conhecimento de um assunto de forma casual, rápida, sem se aprofundar - já não faz muito sentido na era da Internet. Hoje tudo se aprende online em pílulas e listas, com a velocidade que os tempos exigem. Então dizer que Somos Tão Jovens é uma cinebiografia de almanaque pode parecer antiquado, mas a expressão define bem o filme do diretor Antonio Carlos da Fontoura sobre a juventude de Renato Russo.
Thiago Mendonça (o Luciano de 2 Filhos de Francisco) interpreta o músico no fim da adolescência, nos anos de formação do Aborto Elétrico, grupo que daria origem a duas das principais bandas de Brasília, Capital Inicial e Legião Urbana. O Renato Russo de Mendonça tem a energia de quem está descobrindo o punk rock, o sexo e a política, mas já tem também os trejeitos e as afetações do mito - porque, enquanto filme de almanaque, operando na superfície, Somos Tão Jovens precisa que seu biografado seja imediatamente reconhecível pelo espectador.
Mesmo antes do auge, Renato Russo tinha consciência de que era, acima de tudo, uma figura midiática, e o filme mimetiza isso sem moderação: de um lado a atuação de Mendonça se apoia nas excentricidades, do outro os diálogos do roteirista Marcos Bernstein carregam na predestinação: "Esse é o meu novo eu", "esse é o som do futuro", fica dizendo Renato no filme. É como se Somos Tão Jovens fosse um retrato do artista enquanto... artista. Aos coadjuvantes que orbitam Mendonça resta preencher o álbum de figuras (quando Marcelo Bonfá surge em cena, alguém diz, "olha, ele é o Marcelo Bonfá", só para constar).
A essa caracterização, que trata o personagem como ícone e, por isso, se exime de colocá-lo em crise, procurar entendê-lo, Fontoura adiciona a música - elemento indispensável para completar o exercício de nostalgia que é Somos Tão Jovens. Carlos Trilha, arranjador e produtor de discos solo de Renato Russo, colabora na trilha sonora - inclusive com versões instrumentais de sucessos da Legião

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