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10068 palavras 41 páginas
Gabrielle Poeschl*
Cláudia Múrias*
Eleonora Costa*

Análise Social, vol.

XXXIX

(171), 2004, 365-387

Desigualdades sociais e representações das diferenças entre os sexos**

As diferenças entre os sexos estão muitas vezes no centro de debates nos meios de comunicação social ou nas conversas quotidianas e a produção científica sobre esta temática é prolífica. As controvérsias acerca dessas diferenças e da sua origem têm, com efeito, uma longa história, em que as crenças, e a motivação para manter essas crenças (Valentine, 2001), têm, sem dúvida, um papel importante. As diferenças entre os sexos são, hoje em dia, ainda muitas vezes evocadas para justificar práticas relacionadas com as posições desiguais que os homens e as mulheres ocupam na sociedade
(Poeschl, 2000, e Poeschl e Serôdio, 1998, por exemplo) e as representações dos grupos sociais reflectem e influenciam o extenso mas estéril debate científico sobre essa questão.
Pode fazer-se remontar ao século XIX o debate sobre as diferenças entre os sexos, na medida em que a sua origem é relacionada com as mudanças produzidas na sociedade ocidental pela revolução industrial. Com efeito, e contrariamente à crença segundo a qual nos primeiros grupos humanos os homens iam caçar enquanto as mulheres ficavam no acampamento para cuidar das crianças, as tarefas eram mais partilhadas nessas sociedades do que em muitas sociedades tecnologicamente mais avançadas (Nielsen, 1990).
As mudanças provocadas pela revolução industrial deviam, por um lado, acentuar a divisão dos papéis sociais entre homens e mulheres e, por outro, incentivar a produção de teorias aptas a justificar as posições desiguais dos sexos na estrutura social (cf. Poeschl, 2003b).
* Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto.
** O estudo apresentado neste artigo foi conduzido com o apoio da Fundação para a
Ciência e a Tecnologia (projecto POCTI/36451/PSI/00/2000, comparticipado pelo FEDER).

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