GBEHAGUE 1

2774 palavras 12 páginas
500 anos de música no Brasil: um balanço especulativo por Gerard Béhague1

Quinhentos anos de Brasil: uma co-memoração bastante problemática que, sem dúvida, incita a reflexão, ao debate e até a polêmica.
Como bem dizia meu falecido professor, Gilbert Chase, história não passa de um diálogo com os mortos, mas evidentemente quem dialoga são os vivos. Ou seja, nós mesmos formulamos questões históricas, de acordo com as nossas próprias ideologias e perspectivas num tempo e espaço bem definidos. Tais perspectivas raramente coincidem com as das épocas históricas que questionamos, o que tende a invalidar a tal autenticidade histórica. Mas faz-se mister encontrar o equilíbrio entre o pensamento histórico original e a interpretação do mesmo pela ideologia contemporânea. É também necessário lembrar que a história “escrita” difere muitas vezes da história oral. Neste final do século XX, pareceria, a priori, que a enorme diversidade atual de expressões musicais no Brasil tem pouco ou nada a ver com as épocas anteriores da história musical brasileira. Mas como não há câmbio sem continuidade, essas expressões resultam de uma percepção privilegiada da continuidade histórica de um passado mais ou menos longínquo dentro de uma tradição musical determinada. Outrossim, a identidade do
Brasil, enquanto nação e cultura, tem tido várias manifestações e imagens musicais diferentes durante toda a sua história. É tentador, portanto, fazer um balanço dessas manifestações, não num sentido de rebater os argumentos da construção da identidade oficial que imagina uma cultura única e homogênea mas, pelo contrário, num sentido mais real da identidade múltipla, pluriétnica e polisêmica da cultura musical nacional atual. Para isso, me proponho aqui voltar a examinar brevemente as premissas da construção de identidade nacional em algumas das tradições musicais do país, para tirar algumas conclusões sobre a possível interpretação do perfil musical brasileiro neste fim de século.
Esse balanço é um

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