EXQUISITE PAIN”: A ESCRITA E A ARTE DE SOPHIE CALLE

“EXQUISITE PAIN”: A ESCRITA E A ARTE DE SOPHIE CALLE
Beatriz Elisa Ferro Siqueira

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Sophie Calle é uma artista conceitual, fotógrafa, cineasta e escritora, nascida em 1953, em Paris. No livro intitulado “Mulheres artistas nos séculos
XX e XXI”, Uta Grosenick, diretora de arte alemã, a insere entre as principais artistas dessa época, ao lado de personalidades do porte de Louise Bourgeois e Frida Kahlo, e informa que o trabalho de Sophie Calle recebe a influência das teorias de Lacan sobre “o Eu se constituir através de ser visto de fora pelos outros” 2.
Suas exposições se compõem de fotografias associadas a textos de sua autoria que fundem ficção e realidade. Com um olhar voyeurista e um desrespeito pelas convenções, Calle faz uma intrusão sem pudor na vida privada de estranhos e exibe a sua intimidade. A tentativa é de evidenciar a singularidade de uma existência e a distância que perpassa as relações humanas. Em alguns trabalhos, como em Suite Vénitienne (“Suite Veneziana”), ou
Le carnet d’adresses (“A agenda de endereços”), ela segue pessoas desconhecidas, pesquisa, fotografa e escreve minuciosamente a respeito delas. Com esse material faz uma exposição, sem que essas pessoas saibam ou a autorizem a usá-las em uma obra. Em The Shadow (“A Sombra”), Calle contrata, através de sua mãe, um detetive para observá-la e, ao mesmo tempo, pede a um amigo para seguir o detetive que a seguia. Assim, ela própria se transforma em personagem de sua obra, expõe estes diferentes olhares

2 cruzados e escreve: “Penetrei na vida de X, um detetive particular. Hoje, 16 de abril, tenho tanta influência sobre as ações dele como ele sobre as minhas” 3.
No trabalho que chamou L’Hôtel (“O Hotel”), ela se veste de camareira de um hotel em Veneza para fotografar os pertences dos hóspedes, as camas por fazer e as malas abertas, e escreve sobre as especulações que fez acerca da vida daquelas pessoas. Sophie Calle faz incidir uma lupa sobre detalhes e