Eu e o Outro em Treasure Island e Peter Pan

Introdução

Com base na ideia pós-colonialista, surgiu a preocupação na relação entre o Eu (referente ao Europeu colonizador, neste caso especifico, inglês) e o Outro (ou seja, o colonizado). Dentro desta ideia destaca-se a obra de Edward Said, Orientalism. Said descreve a relação entre o Eu e o Outro como oposições binárias, conforme afirma Maria Teresa Pinto Coelho:
Assim, a relação entre os dois [Oriente e Ocidente] seria expressa por um conjunto de oposições binárias, sendo o Oriente associado a uma série de termos derrogatórios, nomeadamente: irracionalidade, atraso, depravação vs. racionalismo, maturidade e moral, atributos ocidentais. 1 Como a autora continua a explicar, esta ideia servia como uma legitimação da supremacia do Eu sobre o Outro. Porém, na ideia que se pretende transmitir neste trabalho, a crítica de Homi Bhabha ao Orientalism de Said é de maior relevância. Bhabha defende que a oposição não é tão binária como Said afirma e introduz termos como ambivalência, mimicry e híbrido. Estes serão relevantes para a exploração que será aqui desenvolvida sobre o Outro ser o próprio inglês. Também será relevante destacar que na época Vitoriana em que as obras se inserem, já havia uma preocupação com a duplicidade do ser humano. Isto é, o próprio inglês poderia ter características do Outro e consequentemente levar à degeneração da sociedade inglesa, como se pode ver em Dr. Jekyll and Mr. Hyde. Desta forma, destacam-se teorizadores como Lombroso que procuram uma forma de identificar os degenerados entre os gentleman victorianos, ou seja, a stigmata. O objectivo será então aplicar estas diferenciações extremas entre Eu e Outro, e mostrar como o inglês não seria simplesmente o Eu superior e inflexível que Said defende, mas sim um híbrido. Para isso, partiremos das obras Treasure Island publicada em 1883 e Peter Pan publicada em 1911.

I – Ambivalência entre Eu e Outro
1.1. Fascínio e repulsa

Uma das questões aprofundadas por Bhabha diz