Eu preciso de ajuda

No outro dia a casa de Marciana estava em festas, no “Jornal do Comércio” lia-se que Sua Excelência tinha sido nomeado pelo governo português com o titulo de Barão do Freixal, e todos seus amigos foram lhe parabenizar no domingo, e o novo “Barão do Freixal” recebeu eles... no cortiço, onde a novidade virou sensação, via-se as janelas dos sobrados abertas, e as vezes, via-se Leonor ou Isaura sacudirem os tapetes e capachos, batendo nos mesmo com um pau, de cabeça virada e olhos fechados, por causa da poeira. No salão em frente ao cortiço via-se os negros lavando os soalhos, e a cozinha estava uma bagunça. Dona Estela, estava com um penteador de cambraia enfeitado de laços cor de rosa, era notada de relance. Zulmira também ia e vinha, com a sua palidez fria e úmida de menina sem sangue. Henrique, de paletó branco, ajudava o Botelho nos arranjos da casa e, de instante a instante, chegava à janela, para olhar Pombinha, que fingia que não estava vendo isto, toda concentrada a sua costura, numa sala de porta número 15, numa cadeira de vime, uma perna dobrada sobre a outra, mostrando a meia de seda azul e um sapatinho preto de salto baixo, as vezes ela desviava os olhos do serviço e olhava para o sobrado. A imagem gorda e encanecida do novo Barão, com o chapéu alto derreado para trás na cabeça e sem largar o guarda-chuva, entrava na rua e atravessava a sala de jantar, seguia até a despensa, indagando como se já tivesse visto aquilo, provando dos vinhos que chegavam em garrafões, examinando tudo, dando ordens, exigindo atividade, e depois tornava a sair, sempre apressado, e entrava no carro, que sempre estava no começo da rua a sua espera. Dava a ordem para o motorista seguir em frente, via-se chegar, quase sem intervalos, homens carregados de ramos de champanha, caixas de Porto e Bordéus, caixas de cerveja, cestos e mais cestos de mantimentos, latas e mais latas de conserva, e outros traziam perus e leitões, canastras d’ovos, e carne de carneiro e de porco. E as janelas