Etic
Ciência e ética: um pacto fadado ao fracasso?
Ricardo Fenati
Professor do departamento de Filosofia da Fafich Mateus Gomes Pedrosa | |
A ciência, traço que singulariza as sociedades modernas, vem sendo analisada sob os mais diversos ângulos. Desde o enfoque mais clássico da epistemologia ao olhar mais recente dos estudos culturais, multiplicam-se os estudos sobre a atividade científica. Entretanto, em nossos dias, uma perspectiva, a da ética, exerce particular interesse, associada que está ao espetacular desenvolvimento contemporâneo das ciências da vida.
Alternativas inéditas, muitas sequer sonhadas, são, hoje, parte do cotidiano. Possibilidades como a preservação duradoura da vida em condições artificiais, a intervenção em fetos ou as que decorrem do amplo repertório de ações ligadas à clonagem evidenciam a expansão do nosso poderio científico-tecnológico. Poderio que nos inscreve, de imediato, no horizonte ético: podendo fazer, devemos fazer?
Que a reflexão ética encontre algum abrigo nas instituições ligadas à ciência é louvável. Os comitês de ética regulamentadores das pesquisas que envolvam humanos, o crescente cuidado no trato dos animais associados à pesquisa científica, a atenção e a sensibilidade com que são vistas as questões relativas à intervenção no meio ambiente são indicadores de que estamos, felizmente, diante de um novo cenário. Mas, se, de um lado, devemos celebrar o reaparecimento da temática ética, na medida em que se localiza no campo da ação humana o que parecia um destino inescapável, por outro lado, cabe perguntar sob que condições é razoável esperar uma aproximação permanente entre a ciência e a ética.
Ética é, hoje, um termo “quente”, a que todos buscam se associar. O termo é vastamente empregado na imprensa, freqüenta discursos oficiais de matizes distintos, é corrente no meio empresarial e, o que não deixa de ser surpreendente, começa a invadir a linguagem do dia-a-dia. Caracterizar alguém ou algum comportamento