Erotismo
A expressão erótica representa, discursivamente, a materialidade do desejo. De pronto, um possível equívoco deve ser evitado: a expressão erótica não se traduz obrigatoriamente pela referência direta à tematização da sexualidade. O erotismo pode, por exemplo, vir camuflado tanto na poesia de teor revolucionário de Maiakówski, quanto denunciado numa das liras de Tomás Antônio Gonzaga, destinada à amada Marília. Claro está que, quanto mais recuarmos no tempo, mais dissimulada se mostrará a existência da eroticidade.
Deste modo, analisarmos a trajetória da produção lírica na literatura do Ocidente, significa travarmos contato com os sintomas culturais do ressentimento, ora traduzido nos lamentos das cantigas medievais, fruto de um "eu", corroído pelo aprisionamento dogmático exercido pelo poder teocrático, ora manifestado na ânsia libertária (e, por isso, transgressora) dos versos de um Baudelaire, cuja produção poética aponta para o mal-estar civilizatório, próprio de uma sociedade iludida pelo falso gozo engendrado pelo mito do progresso, sob o patrocínio dos "novos senhores" da sociedade industrial.