Dom quixote

Literatura Espanhola: Século XVII – período matutino
A arte da escrita em Dom Quijote de la Mancha
A obra escrita no século XVII por Miguel de Cervantes Saavedra, Dom Quijote de la Mancha, é constantemente considerada uma sátira às novelas de cavalaria. De fato, a personagem construída pelo escritor espanhol representa um homem que, encantado pelos temas dos livros deste gênero, acredita ser ele mesmo um cavaleiro, revestido de todas as características atribuídas ao modelo ideal das novelas: honra; coragem; lealdade etc. O homem não percebe que suas fantasias pouco ou nada têm relação com o mundo real à sua volta, que construiu um mundo imaginário. Seu único contato com a realidade é seu fiel escudeiro, Sancho Pança, que guia Dom Quixote e o protege de suas próprias loucuras, sendo a voz racional da dupla.
Porém, Dom Quijote não se trata apenas de uma paródia ao gênero literário mais popular da época e que entrava em declínio; dentro de sua obra, Cervantes aborda a própria arte da escrita, trazendo, por meio das vozes de seus personagens, reflexões a cerca dos gêneros literários.
No episódio em que o Cura e o Barbeiro analisam a biblioteca de Dom Quixote, a fim de selecionar quais livros seriam levados à fogueira, as personagens traçam considerações a respeito da qualidade das obras que nosso herói possui. Este momento nos oferece uma discussão sobre os atributos que constituem uma literatura de valor.
“— Este que segue é Florismarte de Hircânia — disse o barbeiro.
— Oh! temos aí o senhor Florismarte? — replicou o cura. — Pois à fé que há-de ir já ao pátio, apesar do seu estranho nascimento, e sonhadas aventuras; não merece outra coisa pela dureza e secura do estilo. Ao pátio com ele, e mais com este, senhora ama.” (CERVANTES, p.45)

O diálogo acima mostra que o Cura considerou a “dureza e secura de estilo” como fato determinante para levar o livro à fogueira, trazendo assim um julgamento de valor a respeito da virtude da obra. Este é um pequeno exemplo