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Antídoto à morte da cultura Que fazer com os destroços de nossa herança intelectual e artística? Só há uma saída: resistir
LUÍS ANTÔNIO GIRON

Custo a acreditar, mas, pelo jeito, a cultura acabou mesmo. Não a cultura segundo os antropólogos – que eles conceituam como o conjunto de manifestações de determinado grupo humano, da culinária às crenças, sem deixar de passar pelos folguedos populares.
Nem a cultura pop que continua a encantar as massas deste vilarejo global na televisão, no cinema e na internet. Quero dizer a cultura no sentido tradicional e ocidental do termo: as obras de saber, literatura e arte que o homem vem acumulando desde os gregos e formaram a maneira pela qual entendemos e sentimos o mundo, a vida, o amor, a morte e a transcendência. Vagamos sobre as ruínas da nossa própria alma. É uma evidência chocante, que demorei a compreender. No entanto, a leitura do ensaioA civilização do espetáculo (Objetiva, 208 páginas, R$ 34,90), do escritor peruano e prêmio
Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa, nocauteou qualquer ilusão que ainda permanecia de pé. O golpe mostrou-se ainda mais violento porque desferido por um sábio conhecido por seu otimismo e espírito liberal. Já entrevistei Llosa algumas vezes. Ele não me parece um ser apocalíptico ou marcado pela ideologia que ergueria a voz se não sentisse uma indignação legítima. Vindo dele, a constatação da morte da cultura merece crédito.
Llosa afirma que a cultura tradicional morreu, aniquilada pelo que ele chama de “a civilização do espetáculo”. Define Llosa: “É a civilização de um mundo onde o primeiro lugar na tabela de valores vigentes é ocupado pelo entretenimento, onde divertir-se, escapar do tédio, é a paixão universal”. Nosso novo deus é um folgazão, “amante do luxo e frívolo, ao qual todos, sabendo ou não, redemos tributo há pelo menos meio século, e cada vez mais”.
Para evitar o “Grande Bocejo” das massas consumidoras (o termo é do poeta mexicano
Octavio Paz), a