didi-humerman: de semelhança a semelhança

10948 palavras 44 páginas
De semelhança a semelhança
Georges Didi-Huberman
A semelhança interminável (vasta como a noite)

* (Blanchot, Maurice.
“Roman et poésie”, Journal des débats, 7-8 de julho de 1941: 3. Citado por
Bident, Christophe. Maurice Blanchot, partenaire invisible. Essai biographique. Seyssel: Champ Vallon,
1998: 147.)

* (Blanchot, Maurice. “La solitude essentielle” (1953).
L’espace littéraire. Paris:
Gallimard, 1998:31.)

A semelhança reunida, reconhecida, recluída, a semelhança evidente por si mesma nunca é senão uma salvação de aparência.
A semelhança aquieta, ela nos afasta do hic. Mas, quando surge a semelhança – ou seja, quando ela aparece por aparição, por inevidência, por inquietude, por abertura e por estranhamento: quando, por exemplo, “a noite revela-se feita de órgãos e preenchida de uma espera física” –,* ela não revela nada menos, seja por equívoco ou por desvio, que uma “verdade” fundamental impossível de ser dita de outra maneira. Maurice Blanchot, é o mínimo que se pode dizer, não trabalhava para salvar as aparências. E no entanto, durante muito tempo, e desde muito cedo, ele procurou na imagem e na semelhança uma condição essencial para a experiência que era a sua, como escritor e como leitor, a experiência da literatura.
Os livros de Blanchot ditos de crítica literária trazem sempre, em suas margens – entradas ou saídas –, alguma poderosa invocação às imagens e às semelhanças: O Espaço Literário abre-se com um texto de 1953, “A solidão essencial”, que se desenvolve até fazer da imagem, isoladora e fascinante, o lugar e a questão próprios engajados no ato de escrever:
Escrever é entrar na afirmação da solidão em que o fascínio ameaça
[...], é dispor a linguagem sob o fascínio e, por meio dela, permanecer em contato com o meio absoluto, ali onde a coisa se torna novamente imagem [...], a abertura opaca e vazia sobre o que é quando não há mais mundo, quando ainda não há mundo, [solidão essencial em que] a dissimulação

Relacionados