Devaneios astutos de Astolfo Coringa

1552 palavras 7 páginas
Devaneios astutos de Astolfo Coringa
Meu doce abajur. Compreenda-me nesta noite escura de novembro. A noite é escura porque me esqueci de acender o lampião da vida. Mas me faltam palavras para expressar o que sinto. É esse povo bobo que sina em por confiança em pessoa minha. Chego a me sentir psicopata nesse mundo de inocentes e descontentes. Insistem em acreditar na minha benevolência – opa – como se fosse uma abelha na colmeia de outrem. E assim é a vida, acredita-se nas balbúrdias e cometem-se gafes. E pessoas choram enquanto outras riem e confiam demais. Pobres marujos de um navio velho demais.
- Venha cá, Bileu! Este, senão, não acredita e por deveras o parabenizo. Bileu de Bia e Leufério. Deixou de acreditar quando me viu a por papeis na mesa do delegado. E isso admira.
- Diga, senhor¿
- A que horas falo eu no rádio¿
- Às seis, senhor. Senhor que nada, é respeito. E isso admira.
- Ponho-me a pensar no que digo. Ajuda-me¿
- Diz ao povo que vai construir escolas, todo mundo acredita.
- Escolas têm demais. Crianças demais. Moleques demais. Infância é o de menos. Mas do que importa¿ Que sejam as escolas.
- Comentam por aí que senhor é gente fina.
Eta, besta. Não me apraz viver assim tão longe com essa vida besta. Povo que acredita no que ouve e não no que vê é devoto de São Ninguém. Se não bastasse uma vez, esta é a décima eleição para convosco. E desde que tenho Bileu a meu lado, são escolas. Um pedaço por cada mandato. E assim caminha a vida, na velocidade das obras minhas. Seria feliz por demasia se a fim acreditasse nisso. A vida é um balde de pinhão, sem pinho. Mais aprouvera um carneiro na alcateia que um lobo no rebanho. E me puseram de lobo.
- Senhor, coloco um zero a mais no papel¿
- O que lhe felicita¿
- Zeros.
- Então os coloque, pois. Verba é marota. Gosta de sair para brincar e tão quanto como meninos em feira de ciganos, não voltam. A menos que queiras. Eu não. Só quererei quando o povo por bem me fizer querer. E assim caminha a

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