Deslizamento da Alteridade no Sistema Antropologico Brasileiro

Buscar um consenso em relação ao marco do surgimento da Antropologia no Brasil requer compreensão pontual sobre dois momentos: quando se fazia pesquisa antropológica sobre o Brasil e se isso deve ser considerado uma antropologia brasileira ou quando de fato surgiu uma faísca epistemológica genuinamente nacional acerca de uma produção antropológica genuinamente tropical. No início da década de 1950, quando o projeto UNESCO patrocina uma série de pesquisas sobre as relações raciais brasileiras e considera o Brasil como um “laboratório de civilizações”, colocando a fricção interétnica – apesar de ser um conceito ligado à relação com as sociedades indígenas, coloco aqui como um sentido global - como o grande catalizador da formação de uma identidade nacional, o gérmen do que viria a se tornar uma Antropologia Brasileira se deparou com uma sociedade onde as alteridades conviviam entre si, problematizavam essa relação de convivência e dessa relação surgia o contexto social, como se esse mesmo contexto não tivesse colaborado para o surgimento da Antropologia mas ela se apropriado dessas especificidades de alteridades para, desde a sua gênese, se firmar como um grande campo de pesquisa em território nacional. Em outras palavras, é como se a Antropologia no Brasil já tivesse nascido adulta, graças a essas especificidades garantidas pelas várias alteridades convíveres na realidade brasileira. Ainda sobre esses dois momentos específicos, um dado importante é que, enquanto se levava aproximadamente um século para que se formasse um “departamento de antropologia de excelência” dentro dos centros de pesquisa das universidades ao redor do mundo, esse processo no Brasil levou em torno de 30 anos. Mesmo antes de se formar um centro de estudos antropológicos, outros pesquisadores já contribuíam em conteúdo para a formação de um conjunto epistemológico da antropologia nacional, como o criminalista baiano Nina Rodrigues, que já fazia relatos etnográficos relacionados a questão