Criança Autista
A criança com autismo se isola das pessoas. Foge do olhar e da voz dos outros, sobretudo quando se fala diretamente com ela. O QUE CARACTERIZA A VOZ HUMANA E O OLHAR QUE FAZ COM QUE SE FUJA DELES?
Tanto o olhar como a voz implicam a subjetividade daquele que olha ou daquele que fala. Portanto, nesse âmbito há sempre uma dimensão do imprevisível. Não é difícil observar como a criança autista foge do olhar e da fala dos outros. Através dos testemunhos dos autistas podemos compreender que o sentido da comunicação não é evidente para eles. Isso porque falar não consiste apenas em passar informações, mas porque as palavras, ao serem ditas, deixam escapar os elementos propriamente subjetivos da pessoa que fala. E isso é o que retém a criança autista e faz com que ela se afaste. É como se ela se perguntasse: “Por que ele fala comigo? O que ele quer de mim?” Diante da dificuldade de dar sentido a essas perguntas, ela pode se sentir invadida por um sentimento de estranheza e de angústia.
QUAL É A CONSEQUÊNCIA DESSA RECUSA DA VOZ, DAS PALAVRAS DOS PAIS, DOS EDUCADORES E DO RESTO DAS PESSOAS QUE A RODEIAM?
A consequência de tudo isso é que, ou bem ela não fala e se mantém num mutismo ou, se concede em fazê-lo, ela se limita à repetição de uma palavra ou de fragmentos de frases que escutou em algum lugar.
Às vezes as palavras que ela escuta são apenas “ruído” para ela e ela guarda apenas algumas que lhe interessam particularmente. POR QUE TANTA DIFICULDADE PARA FALAR?
Porque não é a mesma coisa compreender uma linguagem, inclusive conseguir pronunciar palavras, do que falar.
Há uma distância e uma diferença entre pronunciar e repetir palavras, e falar com os outros. Para poder aceder à função da fala capaz de se organizar num dizer ao outro, é necessária a interação com essa outra pessoa. Portanto, a recusa da criança autista aos outros lhe impossibilita ter acesso a essa função fundamental da palavra: a função de falar com os outros