Cordialidade oficioal

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O BRASIL E A ARGENTINA ENTRE A CORDIALIDADE OFICIAL E O PROJETO DE INTEGRAÇÃO

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O Brasil e a Argentina entre a cordialidade oficial e o projeto de integração: a política externa do governo de Ernesto Geisel
(1974-1979)*
MATIAS SPEKTOR**
Em 15 de março de 1979, dia da posse do presidente João Baptista
Figueiredo, um encontro de alto nível entre as diplomacias argentina e brasileira selou a decisão de solucionar o contencioso pela utilização dos recursos hídricos da Bacia do Prata. Menos de seis meses mais tarde, as chancelarias dos dois países acordavam a normalização de suas relações, turvadas havia mais de um decênio. Inesperadamente, um projeto inovador ganhava vida no Cone Sul, ao redefinir o cenário regional em seus aspectos estratégico-militar, econômico e político.
Tratava-se de um paradoxo: no momento mesmo em que a estratégia do nacionaldesenvolvimentismo brasileiro começava a perder o fôlego devido à crise financeira da década de 1980, a diplomacia ultrapassava seu último desafio crucial na região
– a normalização das relações com a Argentina em uma amizade calcada na concertação política e, em seguida, na integração comercial.
Quais são os antecedentes desse fenômeno? Como foi possível que surgisse um projeto integracionista fundacional nas relações internacionais do Cone Sul apenas finda a negociação da hidrelétrica de Itaipu, um dos momentos mais turbulentos do relacionamento bilateral no século XX? Quais foram os motivos que levaram a diplomacia brasileira a promover semelhante empresa?
A interpretação aqui proposta sugere que o projeto de integração regional iniciado na década de 1980 foi o resultado não-intencional da conjuntura crítica que acometeu a política externa brasileira para a Argentina entre 1974 e 1979, qual fosse a sistemática ruptura dos princípios e concepções que informaram a
Rev. Bras. Polít. Int. 45 (1): 117-145 [2002]
* Este artigo é extensivamente baseado em minha dissertação de mestrado, Ruptura

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