ContoI CB

1405 palavras 6 páginas
Confissões Wilson Rossato

Acho que alguma coisa no ar seco do cerrado anuncia a minha chegada. Só pode ser isso, porque mesmo antes de qualquer tipo de comunicação eles parecem já saber o dia e a hora exatos em que vou aparecer. E sempre foi assim. Quando tinha de fazer meu trabalho no Rio eu compreendia que pudesse acontecer, pois as notícias correm, há comentários, e do burburinho confuso de uma grande cidade os envolvidos extraem toda a informação de que precisam. Entretanto, em uma cidade fantasma, tão distante, não entendo como é possível. Mas seja lá onde for, o fato é que sempre sou recebido como uma visita ansiosamente aguardada. As portas são abertas antes mesmo que eu as toque, os cumprimentos são sinceros, a troca de palavras e envelopes é eficiente e, reação comum, as despedidas são secas e apressadas. Depois de receberem o combinado, acham que sou tomado por chagas, chagas purulentas imagino eu, porque me viram as costas e vão cuidar de seus afazeres. Até o mês seguinte. As coisas fluíam melhor quando estavam no Rio, quer dizer, pelo menos eram mais confortáveis. Não tinha a obrigação de voar durante horas e de me deslocar entre edifícios novos e avenidas recém-construídas. Hoje, o que avisto pela janela da suíte é a Praça dos Três Poderes e só o que percebo pelos espaços monumentais é o redemoinho de vento que levanta uma poeira sem fim. Também observo os poucos automóveis circulando em avenidas largas demais e acabo pousando meu olhar na maleta de couro preta. O trabalho me aguarda. Não sei se a maleta está ficando cada vez mais pesada, ou se sou eu quem está ficando velho, afinal, há vários anos que a firma confia no meu trabalho e já sei o caminho das pedras, como se diz. Basicamente, o serviço é sempre igual e apenas tem de

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