Contardo calligaris

2897 palavras 12 páginas
CONTARDO CALLIGARIS - Antipolítica
Se os políticos parecem ser todos corruptos é porque nós, na sociedade civil, devemos ser todos honestos

Certa vez, uma mulher me disse que não deixaria de gostar de mim, mesmo se eu perdesse o cabelo, engordasse absurdamente e mudasse de fé ou de lugar de residência. Mas ela deixou claro que, caso eu me tornasse um político, ela se separaria de mim, no ato. Essa mulher é brasileira, mas poderia ter sido italiana. Brasileiros e italianos compartilham, hoje, uma paixão antipolítica. A ideia antipolítica mais difusa é a convicção (recente na Itália e endêmica no Brasil) de que o exercício da política é indissociável da corrupção -com seu cortejo de alianças oportunistas, mentiras etc. Fora a ojeriza moral, a consequência dessa convicção é a seguinte: de repente, o único projeto republicano válido parece ser a luta contra os corruptos. Ou seja, no governo, os apetrechos da política (planos, visões ou competências) são inúteis, apenas precisamos de pessoas honestas.
A antipolítica da corrupção cria uma nova unanimidade. Para o cidadão comum, ela é lisonjeira: se os políticos parecem ser todos corruptos é porque nós, na sociedade civil, devemos ser todos honestos, não é? Para os políticos, denunciar a corrupção de sua própria classe é mais fácil do que conceber e colocar em ato ideias sociais e econômicas inovadoras. Com isso, a antipolítica reconcilia a nação, as classes e os partidos: vivemos enfim numa comunidade de (todos) indignados contra os políticos (todos) corruptos.
Na Itália, o Partido Comunista da época de Berlinguer (inclusive nas regiões que governava) era considerado, mesmo por seus adversários, como uma reserva ética. Os comunistas podiam ser acusados de comer criancinhas, mas ninguém imaginava que, uma vez no poder, eles seriam como os outros. Ora, a partir de 1991, quando o partido se desfez, as siglas nas quais ele confluiu (compostas cada vez mais de políticos profissionais e cada vez menos de militantes)

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