Como surgiu a crise do pensamento racional e ético
O pensamento ocidental parece revirar-se e mudar em função de crises: a cada alteração político-social revolucionam-se áreas das religiões, às artes, às ciências, acarretando mudanças comportamentais e como conseqüência, mudanças no modo de análise das morais, mudanças na ética. A primeira grande crise enfrentada pelo mundo ocidental (legado de gregos e romanos) aconteceu na passagem do pensamento mitológico para o pensamento filosófico entre os gregos. A mudança do mito para o pensamento racional faz surgir um homem que abandona a explicação mitológica ou sobrenatural e busca uma explicação natural para si e seu mundo.
Pode-se localizar uma exacerbação dessa primeira crise com Sócrates e sua visão social e comunitária. O pensamento racional abandona as causas físicas e passa a preocupar-se com o destino humano; a ética enquanto estudo das relações entre os homens, enquanto pensamento sobre as ações morais, começa a aparecer a partir daí. Na esteira de Sócrates surge seu discípulo Platão, um dos filósofos de maior influência na história da humanidade ocidental, que leva a racionalidade socrática e a busca do sentido preciso dos conceitos às últimas conseqüências, propondo uma ética puramente racional.
Aristóteles, discípulo de Platão e uma das maiores mentes já produzidas pelo mundo ocidental, entra no furacão da racionalidade e, embora afastando-se da orientação de seu mestre, talvez excessivamente matemática para um amante da biologia, acaba sendo historicamente considerado o criador da Lógica. Ele pensa a ética no contexto da pólis, sem desconsiderar as paixões, naturais no ser humano, o que influenciaria definitivamente qualquer ética, retirando a possibilidade de uma solução puramente lógica, pois o homem para chegar à perfeição deve alcançar seu objetivo final – a felicidade.
Descartes, a quem atribuímos a teorização da modernidade, inaugura o que se pode chamar de racionalidade