CLÉBERSON CÉSAR DIAS DA ROCHA " OS XUCURÚS CARIRIS"

9934 palavras 40 páginas
“OS XUCURU DOS GARANHUNS-”
Uma etnologia dos "índios misturados"? Situação colonial, territorialização e fluxos culturais*

CLÉBERSON CÉSAR DIAS DA ROCHA
HISTORIADOR/INDIGENISTA/MESTRE EM ANTROPOLOGIA SOCIAL/ DOUTORANDO EM PSICOLOGIA SOCIAL

PESQUISA EMPÍRICO-TEÓRICA REALIZADA EM NOVEMBRO DE 2008 PARA DEFESA DE ARTIGO PREVIAMENTE PESQUISADO PARA BANCA EXAMINADORA DO COLEGIADO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO - UNIVASF.

Os povos indígenas do Nordeste não foram objeto de especial interesse para os etnólogos brasileiros. Nas bibliotecas e no mercado editorial são muito raros os trabalhos especializados disponíveis1. Apesar da grande expansão do sistema de pós-graduação nos últimos anos no Brasil, ainda no início desta década contava-se com poucas teses monográficas2 e nenhuma interpretação mais abrangente formulada sobre o assunto. Tudo levava a crer tratar-se, em definitivo, de um objeto de interesse residual, estiolado na contracorrente das problemáticas destacadas pelos americanistas europeus, e inteiramente deslocado dos grandes debates atuais da antropologia. Uma etnologia menor.

Na década de 50, a relação de povos indígenas do Nordeste incluía dez etnias; quarenta anos depois, em 1994, essa lista montava a 23. Se lembrarmos da conceituação dos povos indígenas nas Américas como "pueblos únicos" (Bonfil 1995:10), ou da descrição dos direitos indígenas como "originários" (Carneiro da Cunha 1987), estaremos diante de uma contradição em termos absolutos: o surgimento recente (duas décadas!) de povos que são pensados, e se pensam, como originários. Existem muitas outras conceituações similares espalhadas pelo mundo (como a de populações aborígines, encontrada na legislação na Austrália e Oceania, no Canadá, na Argentina e em outros países da América Latina; "populations autochtones", referência comum utilizada na etnologia francesa, e pelos africanistas em especial; "first nations",

Relacionados