cecilia meireles
Não sou alegre nem sou triste: sou poeta.
Irmão das coisas fugidias, não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias no vento.
Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou se desfaço,
- Não sei, não sei. Não sei se fico ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno e asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.
Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas; eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida a minha face?
Reinvenção
A vida só é possível reinventada. Anda o sol pelas campinas e passeia a mão dourada pelas águas, pelas folhas...
Ah! tudo bolhas que vem de fundas piscinas de ilusionismo... — mais nada.
Mas a vida, a vida, a vida, a vida só é possível reinventada. Vem a lua, vem, retira as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços cheios da tua Figura.
Tudo mentira! Mentira da lua, na noite escura.
Não te encontro, não te alcanço...
Só — no tempo equilibrada, desprendo-me do balanço que além do tempo me leva.
Só — na treva, fico: recebida e dada.
Porque a vida, a vida, a vida, a vida só é possível reinventada. 1. Destaque versos dos poemas que comprovem uma característica marcante da obra de Cecília Meireles: a fugacidade do tempo.
2. Cecília Meireles trabalha muito bem o ritmo de seus poemas. Destaque os versos que determinam o ritmo do poema “Retrato”.
3. Ainda em relação ao poema “Retrato”, como é trabalhada a adjetivação? Destaque dois adjetivos e comente-os.
4. Em “Motivo”, Cecília Meireles aborda uma temática – de caráter metalingüístico – comum aos poetas do Modernismo. Que temática é essa?
5. O compositor