Carlos Marighella

6977 palavras 28 páginas
Campinas-SP, (30.2): pp. 335-350, Jul./Dez. 2010

Fronteiras da literatura brasileira contemporânea: mistura de gêneros em Batismo de
Sangue de Frei Betto
Rogério Silva Pereira rogeriopereira@ufgd.edu.br Introdução: uma luz fora da caverna
“Vocês compreendem, a tortura é uma coisa de tal modo horrível, que é melhor não falar dela” (FREI BETTO, 2006, p.388).
“Resta-nos a confiança na palavra evangélica de que será proclamado nos telhados o que se passa às escuras” (FREI BETTO, 2006, p. 303).

Como o Brasil dos anos 80, Batismo de Sangue (BS) tateia no escuro em direção à saída da caverna da Ditadura Militar. Nesse caminho, configura-se como livro que deliberadamente mistura gêneros. Faz circular no jornalístico e no historiográfico as seivas do biográfico, do ficcional e do ensaístico. No transcurso, submete o leitor a verdadeira pletora de linguagens e de gêneros. Tal mistura faz sentido. O autor quer com ela produzir seiva nova para organismo novo – isto é, gênero novo para a nova esfera pública brasileira que, nos anos 80, se ensaia por oposição à lógica violenta da Ditadura. Genero e esfera em que até os mortos podem ter voz, como veremos.

336 – Remate de Males 30.2

Nesses termos, BS é pioneiro e corajoso. Publicado em 1982 é produto direto da Abertura Democrática, implementada a partir de 1979 no
Brasil. Como alguns outros livros (dentre eles O que é isso companheiro?, de Fernando Gabeira) procura dar respostas ao presente democrático refletindo sobre o passado autoritário. Nele, o autor, Frei Betto, frade dominicano, ex-militante de organização clandestina, vem a público narrar história controversa: a morte do líder guerrilheiro de esquerda
Carlos Marighella. Fato que envolvia, dentre outros, a cooperação de dominicanos, confrades do autor.
Era etapa nova da vida brasileira, por isso mesmo cheia de ambigüidades. A esfera pública voltava a ter prevalência, mas era ainda mero projeto. O contexto é eloqüente. De seu

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