Capítulo de história original (Deadline)

O quarto estava tetro como breu, exceto pela luz da lâmpada falha da luminária pequena. Diante do computador, uma mulher de cabelos desarrumados digitava com urgência. O cheiro de café preto era tão forte que impregnava nos poros da pele daquela moça devastada. As veias azuladas estavam destacadas em suas mãos empalidecidas, os dedos tinham as juntas saltadas e as unhas roídas avermelhavam o teclado. Os grandes olhos esverdeados profundamente embalados por olheiras escuras quase saltavam das órbitas. A mulher achava-se curva sobre si mesma, lutando contra o estômago lesado pelo vazio que desejava suportar mais. Sua atenção focava-se exclusivamente no texto que desenrolava. As caixas de som do computador reproduziam cinco playlists de uma hora e meia em volume alto - especialmente organizadas com as músicas de ritmo mais ressaltado.

Num espasmo, seu dedo indicador direito falhou, digitando duas vezes a mesma tecla. Ele foi mordido com um rosnado de frustração e posto em atividade não obstante a dor. Foi apenas o começo de uma série de espasmos em ambas as mãos, a princípio espaçadas, logo frenéticas pela sua própria fúria. O que restava da moça passou a morder cada um dos dedos magros, marcando-os e deixando uma saliva seca neles. As sobrancelhas finas despenteadas curvaram-se, estreitando raivosamente sua visão. O estômago ameaçou se deteriorar, instigando-a para curvar mais o corpo magro e fraco. Seus pulmões começaram a se espremerem de fadiga, exigindo que para respirar, ela ofegasse. Buscando forças na energia que o ritmo da música buscava passar, esforçou-se para devolver as mãos ao teclado do computador. Em nenhum momento havia retirado os olhos da tela brilhante e, quase arrastada, mentalmente já adiantara o texto. Tinha que reproduzi-lo.

Uma tontura súbita a fez quase cair sobre a mesa. Involuntariamente, soltou uma exclamação abafada de agonia. Encravando os dedos no espaço entre teclas e procurando fincar, em vão, as unhas no tampo da mesa, cerrou os