Calvino

Por definio, impossvel mapear essas cidades invisveis e, por conseqncia, invivel localiz-las. Esta apenas uma das muitas interdies em jogo neste romance fabuloso de Italo Calvino, em que uma rigorosa - quase matemtica - construo ficcional se alimenta de poderosos saltos imaginativos. Graas a eles, transcende qualquer fronteira quem comanda a narrao no a voz o ouvido. Marco Polo, verso transfigurada de Scherazade, a primeira vtima dessas proibies ele no pode no contar. Precisa descrever para o conquistador Kublai Khan cada lugar de um infinito imprio e, para cada um, fornecer um nome e um itinerrio a percorrer. De uma cidade, diz o veneziano, aproveitamos a resposta que d s nossas perguntas. Como as dvidas do soberano nunca cessam, para o viajante inexiste descanso. Movido pela compulso por saber sempre mais, o imperador dos trtaros, o ser mais poderoso da Terra, tambm sofre com os limites. A ele, no dado o privilgio de conhecer o que possui, e isso ao mesmo tempo engrandece e esvazia o territrio dominado. O domnio se concretiza por meio do discurso, mas o problema permanece, pois, como alerta Marco Polo, jamais se deve confundir uma cidade com o discurso que a descreve. Por fim, esto circunscritas a uma geografia indefinida as prprias cidades, dependentes eternas da memria de um homem, inevitavelmente falhas porque, por maravilhosas que sejam, nunca sero Veneza o ponto de partida e de referncia, o real que fabrica o mito. Adriano Schwartz Editor do caderno Mais No sculo 13, aps uma viagem que teria durado 30 meses, o mercador veneziano Marco Polo chegou s portas do Extremo Oriente e conheceu a capital do imenso imprio de Kublai Khan Cambaluc, atual Pequim. L o jovem Marco permaneceu por 17 anos, desempenhando importantes funes diplomticas na corte do Grande Khan. Isso o que est registrado nos compndios de histria. Em As Cidades Invisveis (1972), Italo Calvino extrapola os fatos possveis e imagina um dilogo fantstico entre o maior viajante de rodos os tempos