CadCRH 2006 302

9769 palavras 40 páginas
Cristiana Mercuri

Este artigo analisa o discurso de Pierre
Bourdieu sobre a ciência, que supõe a indissociabilidade das reflexões sociológica e epistemológica. Nessa perspectiva, pensar a ciência significa tratar tanto das peculiaridades do jogo científico, constituído em um campo de trocas simbólicas marcado pela lógica escolástica, como das concepções de uma prática específica, a do fazer científico e a da construção do conhecimento científico, submetidas a uma historicização radical, na qual a ciência é, ao mesmo tempo, produto e produtora dessa história.
A inquietação que conduziu as reflexões a seguir resume-se à questão: como, no discurso de
Bourdieu, articulam-se os pressupostos epistemológicos e sociológicos?

Os textos centrais para a fundamentação deste trabalho foram: Le Métier de Sociologue, cuja primeira edição é de 1968; Le Champ Scientifique, de 1975; Réponses, de 1992; Raisons Pratiques, de
1994; Méditations Pascaliennes, de 1997; Les Usages
Sociaux de la Science, de 1997; e Science de la
Science et Réflexivité, de 2001.1
Para iniciar, é importante lembrar um trecho do livro A profissão do sociólogo, onde
Bourdieu afirma:

Os títulos traduzidos para o português são respectivamente: A Profissão de Sociólogo, O Campo Científico
(artigo), Introdução a uma Sociologia Reflexiva em O
Poder Simbólico (publicado no Brasil e em Portugal em
1989), Razões Práticas, Meditações Pascalianas e os Usos
Sociais da Ciência. Science de la Science et Réflexivité foi publicado somente em Francês, até então.
A opção de utilizar obras de períodos tão distintos, como a A Profissão do Sociólogo, de 1968, e a Science de la
Science et la Reflexivité, de 2001, deve-se ao reconhecimento de que os pressupostos da reflexão epistemológica

parecem permanecer vigorosos ao longo dos mais de quarenta anos de suas publicações.
Neste trabalho, foi adotado o sistema de chamada autordata para indicar as citações. Entretanto, para facilitar o reconhecimento das obras de Bourdieu,

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