Azanha
José Mario Pires Azanha
Universidade de São Paulo
Resumo
Partindo do reconhecimento de que o termo “democracia” pode prestaras a todo tipo de propaganda ideológica, há muita dificuldade em esclarecer a noção derivada de ensino democrático. Para contornar esse obstáculo, o A. distingue entre a propaganda e a ação democratizadora, atendo-se ao exame da segunda. Neste sentido analisa alguns esforços de democratização do ensino no Estado de São Paulo, através dos seguintes episódios: Reforma Sampaio Dória (1920); expansão da matrícula no ensino ginasial (1967-1969) e tentativa de renovação pedagógica proposta pelos Ginásios Vocacionais. Nessa análise procura também distinguir entre a idéia de democratização do ensino como prática de liberdade e como expansão de oportunidades a todos, procurando mostrar como no primeiro sentido pode haver uma degradação, em termos pedagógicos, da idéia de democracia política.
Palavras-chave
Democratização do ensino — Ensino secundário.
*Publicado originalmente na Revista da Faculdade de Educação, São Paulo,
v.5, n.1/2, p. 93-108, 1979. A edição manteve os padrões e sistema de referência em nota de rodapé.
Educação e Pesquisa, São Paulo, v.30, n.2, p. 335-344, maio/ago. 2004
335
I.
Num estudo de Gerth e Wright Mjlls, publicado pela primeira vez em 1953, eles afirmam que “a palavra Democracia, em especial quando usada na moderna competição propagandística, passou, literalmente, a significar todas as coisas, para todos os homens”.1 Esta observação que na sua contundência parece dissuadir qualquer tentativa de clarificação do termo, reflete contudo uma característica da situação histórica que vivemos, na qual o prestígio da posição democrática é tão grande que o termo “democracia” e seus derivados se transformaram em elemento indispensável a qualquer esforço ideológico de persuasão político-social. Aliás, esse quadro já se