As três Marias No final da rua seis, onde o sol esmurra janelas e a chuva não ousa passar, havia três Marias vizinhas. Dona Maria Aparecida morava na primeira casinha amarelada, com aroma de jasmim. Ao lado, em uma outra, de porta enferrujada e jardim mau-cuidado, morava a ranzinza Dona Maria do Carmo. E por último, Dona Maria Isabel da casinha com um bonito pé de mangas na entrada. Possuíam algo em comum; as senhoras eram como revistas de fofocas da vida alheia da cidadezinha. Dona Maria do Carmo, como de costume, abriu as janelas mau-humorada, bufando como um búfalo enquanto sacudia o forro de mesa, tirando as migalhas de pão. Logo Dona Maria Isabel deu as caras, prendendo um coque nos cabelos grisalhos. Parecia nervosa. - Sinto-me traída, Maria. - Proferiu Maria Isabel - Acreditas que ouvir dizer que Maria Aparecida anda espalhando fofocas sobre minha pessoa? - Oh céus, terrível, terrível! Eu lhe avisei que ela não era de confiança. Maria Isabel balançou a cabeça melancólica, sendo acompanhada pela outra. Despediu-se Isabel, afirmando ter deixado a água para o café fervendo, e fechou a janela. E, no mesmo instante, uma outra se abriu. Era Maria Aparecida. - Sinto-me traída, Maria - Ditou Maria Aparecida - Acreditas que ouvir dizer que Maria Isabel anda espalhando fofocas sobre minha pessoa? -Oh céus, terrível, terrível! Eu lhe avisei que ela não era de confiança. E a mesma cena repetiu-se. Maria Aparecida fechou sua janela, avisando ter roupas para quarar. No fim da tarde , quando o sol mancha o céu de laranja dando leves pinceladas nas nuvens, as três Marias, por coincidência, abriram suas janelas. As duas Marias continuaram brigadas , fazendo com que Maria do Carmo estressasse com as duas amigas fofoqueiras. - Isto já está uma palhaçada. Voltem a se falar suas velhas chatas! Maria Isabel e Maria Aparecida ofenderam-se e bateram boca naquela noite, com a outra Maria. Nervosas encerraram a discussão, fechando suas janelas enfurecidas,