Análise do filme "O enigma de Kaspar Hauser"

Comentários sobre o filme “O enigma de Kaspar Hauser”

O caso de Kaspar Hauser levanta perguntas intrigantes. Até onde nosso desenvolvimento humano pode chegar sem o processo de socialização? Até onde dependemos da linguagem para podermos elaborar pensamentos, ideias? Kaspar foi deixado em pleno centro da cidade portando apenas algumas roupas e uma carta na mão. Podia apenas repetir poucas palavras e escrever seu nome em um papel. Acredita-se, pela carta, que tenha sido privado do convívio com pessoas por longos anos.

O motivo do cativeiro permanece um mistério. Como indicado ao final do filme, o exame do cérebro e de outros órgãos de Kaspar mostrou que ele apresentava diferenças anatômicas importantes em relação à maioria das pessoas. Isso pode indicar que ele tenha sido colocado em reclusão por ter algum tipo de retardo mental, não conseguindo se adaptar ao convívio social. Entretanto, há que se perguntar: será que essa mesma reclusão não poderia, ao longo de tantos anos, provocar um baixo nível de desenvolvimento cerebral, o que se refletiria nas disparidades morfofisiológicas? É preciso lembrar que sua alimentação era muito pobre, basicamente pão e água, e isso também poderia ter contribuído para o baixo índice de desenvolvimento cognitivo. Portanto, fica no ar a questão: seu problema era causa ou consequência do seu modo de vida?

A princípio, Kaspar não podia andar ou conversar. Apenas repetia algumas palavras que ouvia, semelhante ao ato de um papagaio ou de um bebê que está aprendendo a falar. De fato, ele apresentava muitas características psicológicas de um ser humano ainda em estágio de desenvolvimento inicial.

Intriga a sua incapacidade de se sentir ameaçado diante de alguns perigos (a espada, o fogo). Ele não tinha aprendido a sentir medo daquelas coisas. Apenas reagia à dor, chorando ou se recolhendo. Ao que parece, o ser humano que cresce em um ambiente sem outros humanos apenas age como os outros animais: usando os seus instintos.
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