Antropologia cultural
Depois de ter descrito em sete livros completos a sucessão dos apóstolos [3], acreditamos que é um de nossos mais necessários deveres transmitir neste oitavo livro, para o conhecimento também dos que virão depois de nós, os acontecimentos de nosso próprio tempo [4], pois eles merecem uma exposição escrita bem pensada. E nosso relato terá seu começo a partir desse ponto.
1. Da situação anterior à perseguição de nossos dias
1. Explicar como se merecem quais e quão grandes foram, antes da perseguição de nosso tempo, a glória e a liberdade [5] que gozou, entre todos os homens, gregos e bárbaros, a doutrina da piedade para com o Deus de todas as coisas e anunciada ao mundo por meio de Cristo, é empresa que nos transborda.
2. Contudo, uma prova disso poderia ser a acolhida dos soberanos para com os nossos [6], a quem inclusive eram encomendados aos governos das províncias, dispensando-lhes a angústia de ter que se sacrificar, pela grande amizade que reservavam à nossa doutrina.
3. Que necessidade há de falar dos que estavam nos palácios imperiais e dos supremos magistrados? Estes consentiam que seus familiares – esposas, filhos [7] e criados – obrassem abertamente, com toda a liberdade, com sua palavra e conduta, no que se refere à doutrina divina, quase lhes permitindo vangloriarem-se da liberdade de sua fé. Eram considerados muito especialmente dignos de aceitação, mais ainda que seus companheiros de serviço.
(...)
3. Do modo como se comportaram os que combateram na perseguição
1. Então, precisamente então, numerosíssimos dirigentes das igrejas, lutando corajosamente em meio a terríveis tormentos, ofereceram cenas de grandes combates. Contudo, foram milhares os outros que, de antemão, embotaram suas almas com a covardia, e assim facilmente se debilitaram já ao primeiro ataque. Dos restantes, cada um foi alternando diferentes espécies de tormentos: um, com seu corpo sendo lacerado com açoites; outro, castigado com as torturas insuportáveis do potro