Anatomia

TEXTO DE APOIO

Está tudo errado

Nem parece Brasil. Visite-se o Hospital Sarah, de Brasília, e se terá uma antítese da imagem padrão de um hospital público brasileiro, com suas constantes de sujeira, superlotação, falta de pessoal, escassez de materiais, descaso pelos pacientes, negligência, imprudência e imperícia. No Sarah, especializado em ortopedia e reabilitação de doenças do aparelho locomotor, tudo funciona inacreditavelmente direito, da limpeza dos corredores às máquinas, passando por um comezinho princípio para qualquer empreendimento que queira dar certo - ali, os principais profissionais, no caso os médicos, trabalham em regime de período integral e dedicação exclusiva.

O Sarah, antes chamado Sarah Kubitschek, é criação de um médico formado na Universidade Federal do Rio de Janeiro e pós-graduado em ortopedia na Universidade de Oxford, na Inglaterra - o carioca Aloysio Campos da Paz Jr., de 61 anos. Hoje o Sarah já é uma rede, com unidades, além de Brasília, em Belo Horizonte, Salvador, Fortaleza e São Luís. A rede Sarah obedece a um regime sui generis, aprovado pelo Congresso, em que é definida como instituição pública não estatal – o que lhe garante a autonomia de gestão.

Mas isso não é o principal. O que garante ao Sarah ser o Sarah é que há uma filosofia por trás dele, surgida da visão da medicina defendida por Campos da Paz, seu criador e diretor. Campos da Paz não é um ortopedista cujo interesse se limita às fraturas. Ele tem uma visão da medicina com começo, meio e fim, e essa visão é baseada em princípios tão simples quanto desrespeitados - como os de que o médico deve tratar seu paciente como ser humano e de que a medicina tem por objetivo a cura, ou ao menos o alívio do paciente, não o lucro. Nem parece o Brasil? Vai-se constatar, nesta entrevista, que Campos da Paz acha possível que todo o sistema de saúde no Brasil se pareça com o Sarah. A questão é de filosofia de saúde pública e vontade política de implementá-la.

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