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Tentando entender “Fim de partida”

A obra de Beckett tem algumas semelhanças com o existencialismo parisiense. Reminiscências da categoria do “absurdo”, da “situação”, da “decisão” (ou o seu oposto) a permeiam como as ruínas medievais permeiam a monstruosa casa suburbana de Kafka. Às vezes, de repente, a janela se abre e revela a perspectiva de um céu negro sem estrelas de algo como antropologia. Mas a forma, concebida por Sartre em suas peças de um modo relativamente tradicional, sem ousadia e orientada a produzir um efeito, absorve em Beckett o que é expresso e modifica isso. O impulso é trazido ao nível do mais avançado meio artístico, assim como o de Joyce e Kafka. O “absurdo” não é mais a ideia purificada e consequentemente ilustrada como um estado do Ser. O procedimento poético se rende a ele de modo não intencional. Ele é despido daquele pressuposto doutrinal do existencialismo - não obstante associado ao pathos ocidental do universalmente válido e imutável – caracterizado como a indissolubilidade da existência individual. Dessa maneira, o conformismo existencialista – que alguém deve ser o que é – é despojado juntamente com a afabilidade de sua aparência. O que Beckett emprega da Filosofia, ele deprava a lixo cultural, exatamente assim como o faz com as incontáveis alusões e pressupostos da formação sobre os trilhos da tradição anglo-saxã - especialmente da vanguarda de Joyce e Eliot.
A cultura inquieta-se em torno dele assim como as vísceras dos ornamentos da Jugendstil agitaram-se diante do progresso que antecedeu Beckett, modernismo enquanto obsolescência do moderno. A linguagem regressiva a demole. Tal objetividade apaga em Beckett o sentido e os vestígios do que era cultura. Então ela começa a brilhar. Ele assim realiza uma tendência presente nos novos romances. A reflexão, que para os critérios culturais de imanência estética era proscrita como abstração, vai se tornar parte da unidade da pura representação – corroendo assim o princípio