Abril Desbedaçado

481 palavras 2 páginas
Abril Despedaçado narra a rivalidade entre as famílias Breve, cujo engenho está em decadência, e Ferreira, cuja criação de gado está em expansão. A disputa pela posse de terra justifica o assassínio cíclico entre os guénos, grupos unidos pelos laços de sangue.
Retomando o fio grego, há um rito familiar traçado pelos seus membros que realizam o papel, outrora, dos deuses: zelar pelo cumprimento da moira, destino cego, e inibir qualquer desmedida do herói da vez — como fazem os pais de Tonho quando ele leva Pacu ao circo.
Como sustentava Ésquilo, dramaturgo grego, no caso das vendetas, alimentadas pelas Erínias – deusas violentas, vingadoras do crime de sangue parental derramado –, o direito não estava nunca dos dois lados. Migrava de um lado para outro de acordo com a morte perpetrada.
O ciclo é conhecido e pactuado pelas duas famílias. Cada uma sabe qual a sua função, e o seu cumprimento é uma questão de honra e de ética. As vinganças são sucessivas, e alternam-se os papéis de vítima e algoz.
Tonho vinga a morte do irmão mais velho, é o herói; mas sabe que está tarjado para morrer, é o próximo pharmakós, o bode paciente, como nas tragédias e rituais gregos, a ser imolado em nome da tradição para que a vendeta seja reequilibrada, quando a mancha de sangue da camisa do rival morto amarelecer.
Tudo segue a norma, a tradição. Tudo ali é consuetudinário, previsível, cíclico: o trabalho na bolandeira , os bois e os homens que nela trabalham, os gestos, os ritos sempre repetidos. Não há lugar para o novo. A criação corrói a tradição e liberta o ser.
No curto período de trégua entre os guénos, enquanto a camisa ensangüentada balança no varal, surgem os brincantes Clara e Salustiano: viajantes, agentes da mudança. Eles passam pela casa dos Breve desarticulam o estabelecido, entortam a rigidez da tradição. Clara leva a luz do livro e a singularidade do nome ao irmão mais novo de Tonho: agora nomeado Pacu.
Pacu, inconformado com a moira, instiga Tonho a transgredir, a

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