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1762 palavras 8 páginas
Carlinhos, o narrador personagem, recorda o tempo em que era criança e a mãe o obrigava a ir cortar o cabelo à barbearia do Mestre Ilídio Finezas, que tanto o amedrontava com a sua figura alta e esguia e com os seus braços longos e arqueados que lhe faziam lembrar uma aranha.
Mas, para além do medo que sentia pelo mestre barbeiro, Carlinhos, no tempo da sua infância, sentia por ele uma enorme admiração. Esta resultava da sua brilhante condição do ator amador e da arte com que tocava violino. A sensibilidade artística de Mestre Finezas encontrava eco na personalidade de Carlinhos, enquanto criança em desenvolvimento.
Anos depois, Carlinhos regressa à vila, após o fracasso de um curso não concluído. De vez em quando ia até à barbearia de Mestre Ilídio Finezas, tornando-se o seu único confidente.
É por isso que Carlinhos se disponibilizava sempre para ouvir Mestre Ilídio Finezas tocar uma música lenta e melancólica no seu violino, na qual transmitia toda a sua dor e desolação.

Mestre Finezas

Agora entro, sento-me de perna cruzada, puxo um cigarro, e à pergunta de sempre respondo soprando o fumo:
- Só a barba. Ora é de há pouco este meu à-vontade diante do Mestre Ilídio Finezas.
Lembro-me muito bem de como tudo se passava. Minha mãe tinha de fingir-se zangada. Eu saía de casa, rente à parede, sentindo que aquilo era pior que ir para a escola.
Mestre Finezas puxava um banquinho para o meio da loja e enrolava-me numa enorme toalha. Só me ficava a cabeça de fora.
Como o tempo corria devagar! A tesoura tinia e cortava junto das minhas orelhas. Eu não podia mexer-me, não podia bocejar sequer. "Está quieto, menino", repetia Mestre Finezas segurando-me a cabeça entre as pontas duras dos dedos: "Assim, quieto!" Os pedacitos de cabelo espalhados pelo pescoço, pela cara, faziam comichão e não me era permitido coçar. Por entre as madeixas caídas para os olhos via-lhe, no espelho, as pernas esguias, o carão severo de magro, o corpo alto, curvado. Via-lhe os braços

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