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3560 palavras 15 páginas
INSTRUÇÃO: As questões de números 01 a
03 tomam por base um trecho da obra Noite na taverna, do escritor romântico Álvares de
Azevedo (1831-1852).
Um velho
– Por que empalideces, Solfieri? – A vida é assim. Tu o sabes como eu o sei. O que é o homem? É a escuma que ferve hoje na torrente e amanhã desmaia, alguma coisa de louco e movediço como a vaga, de fatal como o sepulcro! O que é a existência? Na mocidade é o caleidoscópio das ilusões, vive-se então da seiva do futuro. Depois envelhecemos: quando chegamos aos trinta anos e o suor das agonias nos grisalhou os cabelos antes do tempo e murcharam, como nossas faces, as nossas esperanças, oscilamos entre o passado visionário e este amanhã do velho, gelado e ermo – despido como um cadáver que se banha antes de dar à sepultura! Miséria! Loucura!
– Muito bem! Miséria e loucura! – interrompeu uma voz.
O homem que falara era um velho. A fronte se lhe descalvara, e longas e fundas rugas a sulcavam: eram as ondas que o vento da velhice lhe cavara no mar da vida... Sob espessas sobrancelhas grisalhas lampejavam-lhe olhos pardos e um espesso bigode lhe cobria parte dos lábios. Trazia um gibão negro e roto e um manto desbotado, da mesma cor, lhe caía dos ombros.
– Quem és, velho? – perguntou o narrador.
– Passava lá fora, a chuva caía a cântaros, a tempestade era medonha, entrei. Boa noite, senhores! Se houver mais uma taça na vossa mesa, enchei-a até às bordas e beberei convosco. – Quem és?
– Quem sou? Na verdade fora difícil dizê-lo: corri muito mundo, a cada instante mudando de nome e de vida. (...) – Quem eu sou? Fui um poeta aos vinte anos, um libertino aos trinta – sou um vagabundo sem pátria e sem crenças aos quarenta.

Questão 1
No fragmento de Álvares de Azevedo, cruzam-se as imagens das fases da existência humana e da natureza do oceano. Tendo em vista essa idéia, explicite por que razão o ser humano se assemelha, do ponto de vista do enunciador, à escuma que ferve hoje na

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