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1561 palavras 7 páginas
RESENHA
DARDEL, Eric. O homem e a terra: natureza da realidade geográfica; tradução Werter Holzer. – São Paulo: Perspectiva, 2011, 173 p.

A geografia como oxigênio da alma
TARCÍSIO VANDERLINDE*

A proposta de Eric Dardel questiona a cientificidade como único meio de construção do conhecimento geográfico.
Haveria uma relação concreta que liga o
Homem à Terra, uma geograficidade que se apresenta como modo da existência humana que precisaria ser considerada.
Seria, portanto necessário resistir ao espírito do pensador que, em nome de uma razão muito rígida e muito imperiosa costuma entorpecer a liberdade espiritual.
Para Dardel, as doutrinas contemporâneas do desespero e do absurdo, em contraste com a extraordinária habilidade técnica e científica, geraram um desencantamento do universo. Em decorrência, emerge um saber que nivela os relevos, aniquila as diferenças e apaga as cores. “Um dos dramas do mundo contemporâneo é que a
Terra foi ‘desnaturada’, e o homem só pode vê-la através de suas medidas e de seus cálculos, em lugar de deixar-se decifrar sua escrita sóbria e vívida” (p. 96).
O texto original de Dardel completou 60 anos em 2012 e nele é possível perceber a influência de um pensamento crítico à forma de se “fazer geografia” na França durante o período em que o escrito emergiu. Mas percebem-se também as consequências resultantes de um conflito global evidenciado pelo poder de destruição do homem e onde se permitiu o aniquilamento “científico” de vidas em campos de concentração. Contudo, a visão de um mundo movido pelo egoísmo e por uma visão utilitarista da natureza também aparece em diálogos que Dardel estabelece

com Josué de
Castro
em
“Geografia
da
Fome”.
A conclusão é que a multiplicação de pontos de vista sobre a Terra levou a um saber pretensioso e arrogante: ganhou-se em extensão, perdeu-se em profundidade.
Pouco lembrado nas décadas seguintes, “O
Homem e a Terra” revela uma atualidade surpreendente ao ser traduzido de forma sensível por Werter Holzer.

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