2014 Leach
Edmund Leach
Os Antropólogos (orgs: Everardo Rocha e Marina Frid, Editora PUC-Vozes, 2014)
Mariza Peirano
Nossas classificações indicam a forma como procuramos organizar o mundo. Em relação à inserção dos antropólogos na disciplina, podemos distinguir duas maneiras: uma, representada pelos que se comprazem em criar rótulos para fundar ou legitimar escolas de pensamento (como foi o caso do funcionalismo, estruturalfuncionalismo, estruturalismo etc.). Outra, pelos que se situam como elos contemporâneos e membros de linhagens, dialogando, contestando e expandindo novos horizontes. Edmund Leach foi um dos principais antropólogos do segundo tipo, em um estilo brilhante, arrojado, criativo e polêmico. Sua originalidade teórica não foi marcada pela criação ou adesão a uma escola, mas pelo diálogo incessante com a própria história da antropologia, criando novas combinações a partir dos materiais analisados. Leach criticou vigorosamente tanto antigos mestres quanto colegas quando considerava que suas ideias impediam a criatividade. Mas era comum que, em outras ocasiões, recuperasse suas contribuições, indicando que nenhum antropólogo está sempre (in)correto – postura que utilizou para sua própria autoavaliação quando revisava posições que tomara antes. Sua obra pode ser vista como uma interlocução permanente, resultado da profusão de temas e materiais a que se propôs investigar. Em constante oposição à ortodoxia paralisante, deixou uma marca singular, comprovando que não há limites à inquirição da antropologia ao mundo. A obra de Leach foi e continua sendo fundamental para a formação de novos antropólogos.
Edmund Ronald Leach nasceu em Lancashire, Inglaterra, em 7 de novembro de 1910 e faleceu em 6 de janeiro de 1989. Graduou-se em Matemática e Ciências Mecânicas no Clare College de Cambridge em 1932, com a distinção de First Class Degree. Após um período de quatro anos na China como funcionário de uma empresa de comércio, durante o qual viajou extensamente nas