04AMORAMOParabens

3535 palavras 15 páginas
O cinema português através dos seus filmes, Carolin O. Ferreira, (coord.), 2007
(p. 159-167)

AMOR DE PERDIÇÃO
Manoel de Oliveira, Portugal (1978)
Maria do Rosário Leitão Lupi Bello

A relação de admiração e fascínio que Manoel de Oliveira (n. 1908) implícita e explicitamente mantém com a obra de Camilo Castelo Branco tem, na adaptação homónima que fez da famosa novela Amor de Perdição (1862), o seu testemunho mais emblemático.
Se é certo que este clássico da literatura portuguesa – escrito, como diz no Prefácio o seu autor, em quinze atribulados dias, na prisão da Relação do Porto – tem, desde o início, suscitado as mais variadas reacções por parte do público, não é menos verdade afirmar que a adaptação que dele fez Oliveira ficou para sempre como importante marco na história do cinema português e ponto de viragem na carreira do seu realizador.
Espécie de Romeu e Julieta à portuguesa, em que os jovens Teresa de Albuquerque e Simão Botelho se vêem impedidos de consumar o seu amor devido à rivalidade existente entre as respectivas famílias da aristocracia rural do século XIX, o romance é simultaneamente a representação crítica de uma época, dominada por convenções morais que Camilo pre­tende denunciar, e um dramático libelo a favor de um ideal amoroso que parece não encontrar, na vida “real”, possibilidade de consumação plena. O seu eco autobiográfico assume, através da figura de Mariana, terceira personagem de um impossível triângulo amoroso, o ponto existencialmente mais trágico, por nela tomar carne a angústia camiliana enquanto desejo nunca totalmente cumprido.
O Amor de Perdição de Oliveira é habitualmente enquadrado num conjunto de quatro sucessivos filmes, a chamada “Tetralogia dos Amores Frustrados”. O primeiro é O Passado e o Presente (1972), o segundo é Benilde ou a Virgem-Mãe (1975), o terceiro é o filme de que tratamos e o quarto é-lhe posterior: Francisca (1981). Todos eles se baseiam em obras literárias, os dois primeiros em peças de teatro (de

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